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Agatha

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      Sabem aquelas histórias onde jovens ou adolescentes trilham aventuras estúpidas que tanto desejam? Este conto é quase sobre isso. Num certo momento, logo após discutir com a mãe, Agatha, que planejara tantas e tantas vezes subir aquela locomotiva, decidira que rumaria para algum lugar, não se sabe para onde, mas iria conhecer o mundo. Pobre criança. Seus 16 anos traziam-lhe ilusões imensas e belas. Sonhava com política; viagens, amores. Sempre sonhara com um namorado, nunca tivera. Mamãe não deixava e, além do mais, nunca calhou de ter um amor. Apaixonara-se por um rapaz outra vez, mas não passou de uma grande bobagem.
      Usou a tarde para organizar sua mochila. Selecionou algumas bolachas e frutas. Amava maçãs. Roubou de mamãe cinquenta reais. Mal sabia que aquilo duraria no máximo uma semana bem apertada. O que faria após chegar onde nem se sabe, não sabia. Agatha era inconsequente. Brigava com mamãe por não permitir que ficasse fora de casa depois de anoitecer. Queria sair com uns amigos. Mamãe sabia desses amigos de má índole. Andavam mal e ela também.
      Depois que o relógio anunciou as quatorze horas, Agatha abriu a janela e saltou. Foi até seu cão para lhe dar adeus e depois seguiu para a rua, virou-se e pensou em como, apesar dos conflitos, amava mamãe e papai. Papai nunca parava em casa. Mal o via. Era mascate. Dava-lhe pouca atenção. Lembrava-se de poucos bons momentos com o papai, mas apesar disso amava-lhe.
      Agatha seguiu caminho até chegar ao trilho do trem. Pensara em que lado seguiria. O ideal seria subir ao trem quando estivesse parado. Mas onde o encontraria? Talvez conseguisse saltar sobre ele em movimento, mas se lembrou que Caleb fizera isso. Por consequência perdera um braço e teve o rosto por toda a vida marcado. Agatha sentiu-se estúpida, e era. Pensara em retornar à casa. Mas desistir em poucos minutos? Jamais. Tentaria pelo menos por um dia inteiro. Continuou sobre o trilho por mais dois quilômetros. Teve sede e parou para beber. Descobriu que se esquecera da água. Tantas e tantas vezes mamãe rira dela por seus esquecimentos e dessa vez mamãe não pode ajudar. Sequer sabia que a filha fosse louca a tal ponto. Também nunca imaginara que seria como foi. Agatha chorou por alguns minutos. Pensou em voltar outra vez, mas decidiu continuar. Encontraria alguma torneira ou rio pelo caminho, pensara. Levantou-se para seguir e então lembrou-se da surdez. Virou-se apressada. O trem beijou-lhe a testa.